13/06/2016
Maldita, ela olha
na tentativa de conhecer a voz. Maldita são alguns dos nomes que falam sobre
ela. Aleph, seu pai, atribui um nome a ela incomunicável. A chuva continua, sua
pele esta tremula e os olhos cansados. Depois de socorrer a grama com um pouco
de alegria, duvida que seus filhotes ainda estejam vivos. Mas estão, resistem
como ela resiste. Sua mãe, uma ente, de um mundo já quase esquecido, tece suas
palavras todas as noites com o objetivo de ampliar as paisagens mentais dos
homens. No alto do horizonte o sol insiste em aparecer, o sol é um conhecido
antigo, pai de alguns dos seus filhotes. Mas, a tempestade chega com toda sua
força e ela precisa se esconder debaixo de um carro. A tempestade é uma antiga
amiga que não entende o que ela faz onde esta. Debaixo do carro ela observa as
gotas sendo pisadas pelos pés distantes do chão. Na poça de agua que se forma junto
ao óleo que sai dos motores, se enxerga, e lembra como é bonita, como é absurda
e impossivelmente bonita. Seu peito se enche e ela persegue uma moto até a
outra esquina onde as casas deixam os restantes dos alimentos. Um homem aparece
e ela encara seus olhos, ele chora ao lembrar da morte de um filho. Ela saca um
pedaço de milho e segue pela rua como desvendando uma antiga conversa com a
tempestade.
* conto sacado do livreto “Alguns
Sentidos Dissecados do Ordinário”, Yan Chaparro (2016)