domingo, 5 de março de 2017

20/06/2016






A tempestade se acalma e ela sacode seu corpo como sinal de horizonte. Ela é irônica, precisamente seu caminhar ironiza o cinismo, a perversidade e a arrogância daqueles que trazem em si, os poros e a garganta que movem a ilusão do poder. Ela ironiza as salivas e os olhos doentes dos homens que brutalmente faz da vida a trincheira de muitos. Homens nos quais possuem cravado no espirito a morte de muitos, quando gozam saboreando uma carne nobre. Na contra mão dos carros ela dribla um por um, movendo-se lucidamente por onde se encontra o que fica fora da visão. Uma criança a cumprimenta e ela lembra do seu pai, o Aleph. Lembra da criação do mundo, quando muitos Deuses reconheceram a necessidade de ter no universo mais um mundo, o planeta terra. O espelho é argiloso e cortante, escorregam a primeiras imagens. O saber já existe a muito tempo, basta caminhar. Ela lembra da sua avó, que hoje contempla cada balançar das árvores como uma esperança, e canta através dos pássaros um canto para acalmar os homens. Uma formiga passa, uma barata passa, uma vespa passa, e ela reconhece o que ouvia quando criança. Todos somos tão deus quanto qualquer um. Criador e criatura em uma mesmo espirito. O asfalto range os amortecedores dos motores, e a velocidade é cada vez maior. Ela para na frente dos motores, por um instante o homem lembra de si.


*trecho do livreto alguns sentidos dissecados do ordinário, 2016.